O verdadeiro
pecado no Paraíso foi o fato de Adão e Eva sucumbirem à tentação do Diabo,
desobedecerem a Deus e comerem o fruto proibido da Árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal.
Depois que
Adão e Eva pecaram, ficaram conscientes de que estavam nus e se esconderam até
mesmo de Deus (cf. Gênesis 3:8). Ao encontrá-los escondendo-se dEle e se
cobrindo, Deus lhes perguntou quem tinha-lhes dito que estavam nus e que
isso era errado, e perguntou se eles tinham comido o fruto da árvore (cf.
Gênesis 3:7,11). Portanto, logicamente, o vestuário e cobrir-se pela primeira
vez com folhas de figueira deveria ser considerado pelos cristãos o resultado
vergonhoso e repugnante do pecado dos seres humanos e sua rebelião, mentira e
desobediência a Deus. Mas em vez disso tal comportamento tem sido adotado por
muitos como o distintivo da honra, decência e maravilhoso pudor
"natural".
Denominações
cristãs que têm inibições quanto à sexualidade ainda defendem sua obsessão
usando de um pudor excessivo e suas atitudes extremamente negativas quanto à
sexualidade, afirmando que o próprio Deus defendeu este grande ato do homem
esconder o seu corpo quando fez para eles a sua primeira roupa, com pele de
animais. Homens como São Gregório de Nissa e São Maximo, o Confessor,
defenderam esse ato de esconder o corpo, ensinando que estas "túnicas de
peles" (quitões) representavam a natureza animal que a humanidade assumiu
como resultado da Queda, que incluía uma sexualidade animalesca adquirida. Que
cura eles recomendavam para esta horrível doença que podia ter sido tão
facilmente evitada, se somente Deus tivesse criado o ser humano sem sexo? A
virgindade, é claro! Eles sustentavam que a virgindade era o estado imortal e
incorruptível da humanidade originalmente e que todos nós deveríamos lutar para
permanecer virgens (cf.Sherrard, 1976:5-7).
É sabido
que, "fez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles, e os
vestiu" (Gênesis 3:21), quando eles estavam para sair do Paraíso. Mas não
confundamos o amor, a paciência e a tolerância temporária de Deus para com um
certo comportamento, como sinal de que Ele, pessoalmente, aprova ensinamentos
negativos quanto à sexualidade.
Deus com
toda certeza não lhes fez "túnicas de peles" por achar que precisavam
esconder os seus corpos porque estes eram instrumentos vis, ímpios, sujos,
sensuais e pecaminosos. Não era verdade que Ele, Deus, tinha por desventura e
falta de sabedoria equipado os seus corpos com aquelas partes sexuais
terríveis, secretas, vis, pecaminosas e sensuais, que por coincidência, funcionavam
tão bem juntas e causavam uma sensação tão boa, mas eram ímpias demais para até
mesmo serem vistas sem que se viesse a sofrer um grande dano espiritual. Mais
provavelmente, Deus os envolveu em peles de animais quentinhas para
protegê-los, por uma questão de amor e misericórdia, pois dava dó saber que
estariam despreparados para as difíceis e novas condições de vida fora do
Paraíso.
Lidar com a
dissonância que surge quando a sexualidade e a espiritualidade humanas são
postas uma contra a outra, tem atormentado todas as religiões, mas
principalmente o cristianismo. A História da Igreja revela que tem se travado
uma batalha muito longa e atribulada quanto à questão do corpo e do espírito,
da sexualidade e da espiritualidade, do prazer e da piedade. Quando a
sexualidade humana se transformou no inimigo da espiritualidade, a humanidade
foi pega num dilema dualista. Foram obrigados a escolher entre o prazer agora e
dor eterna, entre paixão e paraíso. Onde quer que este dilema dualista tenha
assumido o controle da crença religiosa, as pessoas saíram de sincronia com sua
própria sexualidade criada por Deus e, como resultado, têm sofrido grande
angústia mental, têm sido atormentadas por sentimentos de culpa e começaram a
odiar seus próprios corpos e sexualidade.